quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quando Deus é amor, os demônios se presentificam

Recebi um e-mail de um colega de faculdade. Não me recordo o que dizia, mas algo me chamou atenção. No corpo do e-mail falava-se que depois de Jesus ter apresentado Deus como amor no novo testamento, o demônio apareceu mais vezes. Achei interessante.

Eu que não sou bobo, resolvi perguntar ao deus da sociedade da informação se ele sabia algo sobre isso. Joguei no google e li muitas coisas, na maioria religiosas, sobre o assunto. Previsões de fim do mundo, convites para participar de cultos e contas bancarias para depósito do dizimo a parte, comecei a pensar em como isso é uma realidade nas nossas vidas. Quando deus é mal, tirano, perverso e vingativo, não precisa-se de demônio, o nosso próprio deus já faz o serviço completo. Mas quando damos voz de ordem ao amor e ele entre os sentimentos passa a ser nosso deus, ferrou. Os demônios ficam em polvorosa, os fantasmas surgem de todos os cantos,escutamos gritos e correntes que se arrastam dentro de nós e a vontade que temos muitas vezes é de chorar. Não tem jeito, a ira traz certezas já o amor dúvida. Se sentimos raiva de alguém, não temos questionamentos. Ele é um idiota, que não me merece e deve queimar no fogo por toda a eternidade. Assunto encerrado. Já quem ama nunca sabe de nada. Será que vai gostar do presente,da roupa, da minha voz, do rosbife da minha mãe, do meu cabelo, do criado mudo que herdei da minha avó? Como devo agir, pensar, caminhar, me vestir, dar comida aos cachorros? Um dilúvio de duvidas inunda nossos pensamentos e ações, e o pior, sem avisar antes para que possamos construir nossa arca e só sair quando a pombinha branca voltar com o ramo de oliveira no bico . O jeito é nadar mesmo.

Mistura-se prazer e desprazer de forma rápida e inesperada, e as vezes a sensação é parecida com aquela que sentimos quando nos perdemos da nossa mãe no meio da multidão no centro da cidade.

Bem, de duas uma. Ou amor não é um bom deus, ou ele é sagaz a ponto de liberar os demônios para que possamos pelejar com eles, como o Arcanjo Miguel e sua legião fizeram na batalha no Céu e expulsa-los de vez do nosso paraíso.

O bom disso tudo é que somos uma democracia, podemos dar o poder de governo ao sentimento que quisermos. E sem tempo determinado para cada um. Quando quem está no comando não nos agrada podemos pedir o impeachment sem precisar pintar a cara. Somos os donos do jogo.

Recomendo apenas cuidado para não permitir a tirania e a ditadura de um sentimento só. Vai que um deles é fidelista.

Quem ama faz.

Quem ama não trai. O único amor verdadeiro é o de mãe. Amor verdadeiro nunca acaba se acabou é porque não era amor.

De médico, louco, e Phd em assuntos sentimentais todo mundo tem um pouco. Ao nosso redor as pessoas têm 1001 certezas sobre o amor, basta alguém estar em duvida que logo resolvem como uma equação matemática os seus problemas.

O namorado da sua amiga está traindo ela com uma loira ridícula. Sua amiga te conta aos prantos essa descoberta, e diz “mas ele disse que me ama”, o diagnostico vem sem pestanejar “não seja boba menina, quem ama não trai”.

Todo mundo sabe tudo sobre o amor. Dos outros. Quando o amor é nosso complica tudo, e de tanto que agente não sabe sobre o amor agente cria certezas só para nos manter mais seguros diante do monstro que não dominamos.

Acho que o erro está exatamente porque queremos do amor o final. Primeiro agente se conhece, depois eu gosto de você, depois construímos confiança, até chegarmos ao amor, e uma vez encontrado estamos na perfeição e gozaremos de uma vida maravilhosa longe de qualquer problema. Um amor quase nirvana, inatingível, um amor topo do everest. Não. O amor de fato não é isso. O amor deve ser inicio. Inicio de qualquer relação, projeto, pensamento. O amor deve ser empregado diante de qualquer situação. Não digo do amor romântico, e sim do amor biológico, o amor necessário para que tudo comece. Deve ser início, é o acolhimento de uma idéia, é sentir-se parte daquilo que se deseja, ele é nosso e ninguém tasca, deve partir da gente e nunca esperar que ele surja como mágica do ¹“mágico mc”. O amor é mágico, mas não é mágica.

Por tanto, amor de mãe, de pai, de filho, de marido traído, de sogra, de professora mal amada ou seja lá de onde vier, não deve ser esperado, deve ser sentido. Amor não é o final, e com amor que se começa.