sábado, 11 de dezembro de 2010

Guerra nas estrelas



Há muito não escrevo aqui, e como sempre pretendo voltar a escrever com mais freqüência, mas os 140 caracteres do twitter tem me deixado viciado em textos mega curtos e desconexos. Preciso conseguir administrar as duas ferramentas.

No meio de muitos temas que apareceram nesses últimos tempos um me chamou a atenção, a agressão contra jovens homossexuais em São Paulo. Não pretendo aqui falar sobre homofobia e direito civis dos homossexuais ( Não porque não julgo importante, mas porque pretendo falar sobre isso em textos diferentes). O que pretendo expressar é o meu não entendimento do porque alguém aparentar ser homossexual mereça levar um golpe de lâmpada fluorescente no rosto sem chance de defesa. Que medo é esse que faz com que um jovem rapaz reconheça no outro o rosto ameaçador do inimigo que merece ser derrotado?

Ao ver a cena da AV Paulista me veio em mente cenas do Filme “Star Wars” onde herói e vilão lutam com seus sabres de Luz. Uma luta mais justa e com mais objetivo do que a da Paulista. Nela vilão e herói possuem armas e sabem muito bem cada qual o seu papel. Em São Paulo, o vilão achou-se herói e dentro do seu heroísmo acreditou ser o melhor para o mundo deferir um golpe com seu sabre de luz improvisado no rosto do inimigo. “Exterminei o inimigo e ele nunca mais será como antes, nunca mais ira mostrar sua face Maculada e pecaminosa no meio dos bons mortais”. Pensou o agressor.

Luke em Star Wars não sabia, mas o inimigo contra quem tanto lutou (Darth Vader) era na verdade seu pai Anaquim ou seja aquele inimigo ameaçador era na verdade 50% da carga genética que ele possuía, metade do material Genético que havia dentro do seu corpo. Deferir um golpe contra aquele vilão, era como matar uma metade sua, metade a qual ele não queria ser apresentado ( Quem não tem medo dos seus vilões).
A quem o jovem quis atacar? Ao rapaz desconhecido ou talvez a uma parte sua sombria e fantasiada de vilania?

Sem querer cair na falácia de que todos que apresentam posturas contra a homossexualidade são homossexuais enrustidos (pode ser mas não é sempre e acredito que não seja a maioria) Mas todos nós temos um pouco de cada coisa que existe no mundo na nossa formação de personalidade. O desejo é um só. É uma potência única que se molda e se expressa através do que adquirimos como simbolização e linguagem.

Ao colocarmos no lugar de sombrio nossas próprias coisas faz com que expressemos de modo agressivo contra o semelhante aquilo que em nós rejeitamos.
Como nós disse o maravilhoso e talves o maior estudioso da alma humana de todos os tempos o psiquiatra Austríaco C. G Jung : "Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma compreensão sobre nós mesmos."
( Carl Gustav Jung )


E então quem é o seu vilão?

domingo, 10 de outubro de 2010

Todas aquelas coisas que deveriam ser ditas ao inves de escritas (Ações talves)

Já lí todos os Sartres que me dizem Ser o nada. Se sou Tudo aquilo que nunca sei nunca fui aquilo que sempre soube.
O espelho é uma mentira que se torna verdadeira pelo sarcasmo literário do mundo.
Nunca bebi cachaça pura do alambique. Que bom! Moço Sempre fui bom moço. Nunca fumei aquele negocio que os maus. Moços. Fumam ( quando mau moço, depois do almoço). Sempre fui bom. Para o espelho. Lado de fora da mentira de ser agente. Agente da passiva, da ativa, da militância. Há gente que sente, que deveria estar contente. Comumente vejo gente que sente e finge que não.
Eu sei, eu sei que deveria estar contente. Se eu que sou são não consigo ser constante. Quem é maluco beleza diz com certeza que tem “ uma porção de coisas grandes para conquistar e não pode ficar ai parado”. Estou me movendo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Deixa eu dançar...

Vamos balançando como onda, como peixe, como cobra, vai em frente como se exaustivamente ensaiados fossem os passos, dando o tom da musicalidade e da arte de estar vivo.
Deixem aquele menino dançar com as mãos sobre a cabeça, barriga para cima e pernas para o ar. Pelo amor de deus (seja ele qual for o seu) deixe o menino rodar, pular carniça, comer amêndoa, cocada, pé de moleque. Deixe o menino rodar, fingir que é sapo( que é gente) rir de tudo isso que não presta.
Agora é moda treinar menino para ser infeliz. Faz curso desde moleque para aprender como sofrer quando for grande. Querem o sucesso do moleque baseado no não sucesso do moleque que fica dentro de quem é grande querendo brincar. Esconde-se Curumim dentro de caixas de aço para que se possa demonstrar toda força que não se tem.
Todos muito intelectuais por trás dos seus dedos em ristes, das suas teorias fundamentadas e tudo que existe de mais chato, assinados e aplaudidos por todos aqueles que choram o desejo de liberdade.

Caetano um dia pediu em versos musicados:

“Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara
Minha cara minha cuca ficar odara
Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dara“


Eu faço coro e peço: Para tudo ficar Odara, libertem omodé, Curumim moleque. Para que ele possa dançar (com passos qualquer) e trazer a tona a força mais bruta e viva que existe em nós. A força de criança.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A puta (é) e a santa.

Toda puta sabe de cor a oração. Toda puta é uma santa ao contrario. E ser contrario não é ser outra coisa senão a coisa mesma de outra forma.
Não existe 2 tipos de pessoas (as putas, safadas, malandras e as santas). Existem só as que são tudo. As que são todas as coisas. Tem quem estuda e quem é da boemia. Tem quem rouba e quem compra. Tem quem vive e quem morre a cada dia. A sabedoria não vem encaixotada. Não existe partição, nem muro, nem lado, nem time. O que existe é um festival de coisas muitas que de tão diferentes são homogêneas.
Toda puta é santa que esqueceu de rezar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O encontro com o Diabo.

O demônio é uma das figuras que mais assombram o imaginário popular. Lobisomens, mulas sem cabeça e velhos do saco costumam colocar medo apenas nas criancinhas. Mas o mal, o inimigo de Deus é uma figura que assombra a qualquer ser vivente e para isso não precisa acreditar em divindade.
O Mito do oposto do Divino trás a mente a reflexão sobre a inexistente perfeição. O demônio Judaico cristão é lúcifer, anjo bonito e inteligente que foi jogado no abismo por querer a perfeição divina para si.
Quantas e quantas vezes nós na busca de uma falsa perfeição somos jogados para o abismo, por não ser possível alcançarmos essa perfeição divina, do que só é bom, só pensa no bem, só ama.
Volta e meia nos deparamos com situações onde falamos: “mas como pode fazer isso? Ele é uma pessoa tão boa. Parecia estar tomado por alguma outra força” E de fato é. É a força que muitas vezes nós empurramos para o abismo na tentativa de que ela nunca surja e no mínimo descuido das nossas sentinelas da perfeição ela retorna com toda força, sendo muito mais perigosa do que se permitíssemos que ela circulasse normalmente junto com as outras forças.
Por fim se soubermos dialogar com as forças que nós no auto da nossa ingenuidade denominamos de demoníacas e direcionarmos para que elas se manifestem da forma mais adequada possível não precisamos nos assustar com o desconhecido. Para uma vida saudável é importante que anjos e demônios convivam em harmonia.

domingo, 23 de maio de 2010

Para falar de {in}tolerância

Tolerância foi a palavra que pulou sob minha face durante essa semana. Todo dia fui colocado junto ao tema. Vivendo pessoalmente, na Internet, noticias, ouvindo conversa alheia no transporte coletivo. Mais uma vez a vida me mandando recado para que eu pudesse refletir sobre algo importante.
Segundo Locke Tolerância é parar de combater o que não se pode mudar. Conceito muito importante. E não difundido pela maioria. As pessoas perderam a noção do que é tolerar e refletir e começaram a querer convencer o outro de que a sua opinião é a mais valida e a mais correta. E qualquer uma outra opinião é imbecil.
O ultimo fato que me fez pensar sobre isso. Foi um vídeo em que humoristas do programa “pânico na TV” foram agredidos (verbalmente e com água) por um grupo (aparentemente político) que participava da “marcha contra homofobia” em Brasília. Algumas dessas pessoas argumentaram de que aquele era um evento sério e por isso não cabia ali um grupo de humoristas. Pois bem. Humor nunca foi o contrario de seriedade e sim de “mal humor”. Existe no mundo e principalmente no Brasil uma normose de se acreditar que coisas sérias não podem ser leves, engraçadas e prazerosas e que tudo deve ser conquistado na base da luta com punhos cerrados. Pensamento atrasado.
Homofobia é assunto serio sim( apesar da banalização do termo). É uma questão de direitos humanos. E deve ser tratada com toda seriedade possível. E seriedade é algo que vem da alma e nada tem a ver com a forma em que ela aparece.
O Programa como todo programa de humor exagera até porque é no exagero que se encontra a piada e muitas vezes se perdem chegando a ser grosseiros.
O grupo que luta contra a homofobia na sua maioria composto por homossexuais não quer ser piada. E não são uma piada (como muitas vezes se é entendido) são pessoas comuns lutando comumente pelos direitos humanos. Muito justo. Mas perderam a oportunidade de levemente mostrar isso ainda que para um programa de humor( Aqueles que participaram da agressão).
Se por algum motivo isto ainda é visto como piada é importante que se mostre também quando o homossexual não é engraçado, quando ele é cidadão comum. O Humor fala exatamente desses homossexuais que são engraçados ou de questões engraçadas desse grupo, como serve para colocar uma lente de aumento em tudo que é engraçado em todos os grupos e situações. Percebo que quando não se é engraçado junto com a graça desaparece a questão da expressão sexual ( Escrevo depois sobre isso). Ninguém fala por exemplo de Renato Russo em piada e fala-se pouco de sua homossexualdiade.
O chiste é um recurso usado quando queremos falar algo sério mas dizemos em tom de brincadeira para que não seja entendido de forma ofensiva por quem ouve. E na brincadeira, na leveza do humor saudável muitas questões interessantes podem ser levadas para discussão pública. O que não é visto pode passar a ser visto. Os excessos podem ser cortados e o discurso e o dialogo podem correr livremente.
Como sempre só mais uma opinião que pode somar-se com outras em tom de debate sem problemas. E essa não é uma postagem de defesa de ninguém apenas exposição de idéias. Ninguém é obrigado a gostar de nada e cada um tem sua opinião sobre programas de TV.
E fica como reflexão, fogo nunca poderá sera apagado com fogo, água nunca irá conter água e intolerância a formas de visão diferentes das nossas nunca irão frear a intolerância quanto aos nossos pensamentos.

domingo, 9 de maio de 2010

Música, pintura,poésia, viver e outras formas de arte

Música, pintura, dança, teatro, poesia. Arte. Faz-se do coisa alguma alguma coisa. O que antes eram palavras, tinta pincel, idéia, imagem. Agora é uma coisa só. Encantador é esse poder transformador que encontramos no profundo do homem.

Quando vejo a expressão artística tenho adoração, porque sei que ali encontra-se a manifestação do divino. O Poder divino do humano que pode criar qualquer coisa. Imagine: Existia o nada de repente faz-se alguma coisa. Assim começou o mundo. Assim surgiu a vida.

Licença poética é a licença que o poeta ou qualquer artista tem de passar por cima das regras para poder expressar sua arte.
Porque não fazer da vida como fazemos com a arte? ( porque nada mais que arte a vida é)Porque não viver com eterna licença poética?
É tão saudável pedir licença as regras e fazer da vida a sua poesia. Questionar os valores vigentes e simplesmente viver dentro da ética com você e com os outros.O interessante seria mutar-se em poesia e viver eternamente em licença poética.

Busque a sua sintonia, o seu som, a sua batida, a sua melodia. As regras cultas são deles não cabem de completo para você. Só nós podemos ser os autores da nossa poesia de vida.
É essa é a única forma de viver honestamente. Qualquer uma outra forma é desonesta e insalubre. Só existe o bem viver quando ele é pintura de nossa autoria.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Nadando contra a corrente; Quando não dormir é quase acordar.

“Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito e a solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita”.
Não sei o motivo ocasionador das insônias do autor da canção “Pro o dia nascer feliz” com a qual abro esse texto Cazuza. Pela Biografia do cantor provavelmente não eram os mesmos fantasmas que assombram as minhas noites. Cidadão pacato que sou e nem um pouco rebelde e brilhante quanto Cajú.

A insônia tem sido tratada como doença. E como toda doença tem um remédio que cure, cada dia mais e mais pessoas se entopem de calmantes e soníferos para se “desligarem” como se robôs fossem. Trabalho, estudo, família, um dia inteiro na rua e ao chegar em casa um comprimido um copo de água e pronto temos um problema resolvido. Aquele que não dormiria agora dorme para poder fazer tudo aquilo que tem por obrigação no outro dia fazer.
Toda vez que comento sobre a minha ansiedade e a minha insônia recebo toda sorte de conselhos. Desde “deita e espera o sono chegar” Até “Procure um remédio”. E no imaginário das pessoas “ Como um futuro profissional de psicologia é ansioso e tem insônias?” Acredito que a insônia, assim como alguns outros sintomas nem sempre podem ser lidos como uma doença ou um problema a ser resolvido. É só a ponta de algo mais profundo e isso sim precisa ser resolvido e leva tempo. Tempo esse que temos pouco. No outro dia preciso acordar e fazer mil coisas 90% delas que eu não gostaria de estar fazendo.

A minha insônia pelo menos sempre tem um conteúdo expressivo. Algo que preciso tomar ciência e não consigo sabe-se lá por qual motivo. Tanto que assim que isso me vem a consciência os sintomas de ansiedade passam e eu relaxo e durmo. Como se nada anterior a isto tivesse acontecido. Logo a minha insônia na grande maioria das vezes não é um problema mas o início da soluçãoe. Imagine se eu tivesse tomado um remédio. Provavelmente estaria acordando dopado não tendo dormido bem e não estaria de madrugada escrevendo esse texto sobre algo tão importante a ser discutido no dia de hoje.Quanto tempo temos para resolver as nossas próprias questões.

Só espero encarecidamente que minhas expressões procurem outras formas de me dar ciência delas, se eu pudesse opinar, preferia que elas viessem em sonhos. Porque eu estaria dormindo e relaxado enquanto me conscientizava das questões. Unia o útil ao agradável.

Cada um escolhe o que fazer com o que lhe incomoda não pretendo ditar regras ou falar mal de medicamentos é apenas uma reflexão. Como Cazuza estou sempre “Nadando contra a corrente. Só pra exercitar”. Grande exercício esse de pensar.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Algo sobre a água; ou qualquer uma dessas outraS coisas

A água flui pelo rio avante e sempre. O fluxo pode sofrer variações, porém não é possível impedi-la de seguir o caminho que tem por obrigação percorrer. A partir do momento que nasce não existe escolha: Ela é água e essa é sua natureza. Pedra de gelo, nuvem no céu, no mar, escorrendo pelo rosto. Mata de sede, mata na enchente, mata no mar, mata a sede, diverte na praia. Estado ou ações a parte Água é sempre água.

A Vida humana também é assim. Começa sem pedir, vive a sem saber o porque e termina por algum motivo qualquer que não justifica o ínicio. E assim vamos caminhando por ela procurando trazer algum tipo qualquer de significação. Nunca saberemos o que nos espera pela frente e isso é causador de ansiedade. Nunca saberemos como poderia estar sendo nosso curso se tivéssemos tomado outro rumo anteriormente. Isso nos traz angustia e culpa. Só sabemos de onde estamos neste exato momento só é possível viver o hoje. "Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal". (Mateus 6:34 )

Na tentativa de afastar-se dos sentimentos que o “não saber” trás, muitas pessoas “agarram-se” em qualquer obstáculo no meio do caminho como se parando no espaço fossemos capazes de parar a fluidez da vida quando com isso o maximo que se consegue é que a vida passe sem você.

Por fim não existem alternativas. Ou vive-se a vida ou deixamos ela passar fingindo que não temos responsabilidade pelo seu curso. Respeitar e seguir a correnteza da vida de forma tranqüila é o que há de mais saudável a ser feito. Como canta Caetano em Alegria alegria “Eu quero seguir vivendo Amor. Eu vou. Por que não? Por que não?

quarta-feira, 24 de março de 2010

E foram sós para sempre...

Para termos certeza que ficar só doi, basta reparar a atitude de um bebe de colo que ao se percebe sozinho, se contorce e chora um choro desesperado. No entanto basta que ele ouça a voz de sua mãe para que relaxe toda sua pequena musculatura respirando bem fundo as vezes até expressando um sorrisinho angelical. É como se dissesse :

-Pronto, Não estou mais só.

Não venho escrever sobre amores tórridos, promessas de fusão de almas, metades de laranjas( limão, uva, pêssego, fruta do conde), tampas de panelas ou chinelos velhos para pés cansados (detesto esta expressão). Venho falar de solidão. Podem me chamar de desalmado mas a noticia ao qual sou porta voz é péssima: Você será sozinho para o resto da sua vida. Eis a uma das coisas mais doloridas e verdadeiras de se descobrir.

Esqueça todos os amigos que te amarão para o resto da vida e estarão com você para o que der e vier, todas as almas gêmeas e amores eternos, todas as fusões onde você será “uma só carne” com o outro, toda sensação de posse, a sua mãe que daria a vida por você por você ser parte dela. Você está só e só você é tem a responsabilidade sobre sua vida. Assuma.

Não sou um amargurado dizendo que o amor não existe. Muito pelo contrário. O amor só é capaz de existir quando nós reconhecemos sós. Só é possível amar o outro quando reconhecemos nele a alteridade, quando reconehcemos nas nossas relações o outro como sujeito e não parte de nós com aos quais não viveriamos sem. Amar o outro como parte de nós Chama-se narcisismo.

Construir relações não se dá em procurar o que nos falta. Isso nós deveriamos fazer atráves da reflexão e da construção de identidade. Ao procurarmos alguém deveriamos ser inteiros procurando uma outra inteireza. E não procurar-mos metades. A não ser que se queira relações medianas. Uma relação (neste caso amorosa) é a busca por outra solidão que combine com a nossa. Que compartilhe conosco o cobertor e o filme, a dança na balada, o mesmo prato de macarrão, o nosso desejo sexual.

Pode parecer anti romantico. Talvés seja. Mas é algo completamente lógico-matematico. Por exemplo, se procuramos alguém para compartilharmos nosso desejo sexual ou nosso desejo de casar por exemplo eu sou ½ que quer procur outro ½ que quer. Nada mau. matematicamente teriamos 1 inteiro. Mas quando somos 1 inteiro procurando um outro inteiro já estamos inteiros e procuramos apenas uma compania para nossa completude, porque precisamos estar juntos (como [en]canta Tom Jobim em Wave: “Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho”). Teremos então 2 inteiros. Com certeza a potência vivida será maior (2 > 1). Relações não completam ninguém. Apenas dão cor e emoção a aura de nossas solidões.

terça-feira, 23 de março de 2010

A Roda

A Roda. Traz consigo idéia de movimento, evolução, mudança. Sua imagem tem povoado meu imaginário ultimamente. Sempre girando. Um moinho d’agua, uma roda de trem, um aro que desce o morro. Tudo Roda. A terra é circular e gira no entorno do seu próprio eixo e por sua vez roda no eixo do sol, assim como os outros planetas também rodam. Eles evoluem na mesma dança sincrônica. É maravilhoso como algo tão simples pode ser objeto de tamanha reflexão.

É assim que nos sentimos (Eu me sinto), uma roda girando para chegar ao desconhecido e com o eixo um tanto quando instável e pequeno que muda de ponto fixo virtualmente. O que me traz um certo desequilíbrio. Não saber onde se vai chegar não é o problema. Ninguém sabe. Só vamos em direção ao desconhecido. Mas para isso é importante que o ponto do eixo seja fixo. Só assim a vida pode se desenrrolar sem desequilíbrio. Harmonicamente.

Instrumento dos demônios. Instrumento do anjos. Só isso pode explicar a rotação da roda da vida. A momentos que se está encima e outros que se esta em baixo. Oscilam-se emoções sentimentos e pensamentos. As vezes vemos tudo rodando. O mundo gira, a bola de futebol e a Bailarina giram para entreter, rodopia-se de felicidade e quando se é criança querendo brincar.

É obvio que eu não fui o primeiro a fazer analogia entre a Roda e a vida. E quem fez antes e me inspirou (e me inspira sempre) escreve bem melhor que eu. Francisco Buarque de Hollanda na música Roda Viva fala muito bem sobre como nossa vida gira. Como o que nos é certeza hoje pode ser a dúvida de amanhã. Como não fazemos nada além de viver o desconhecido, o instável. Nós construímos certezas, montamos projetos, acreditamos ser donos do próprio destino, “mas eis que chega a roda viva E carrega o destino prá lá ...” E assim a vida se desenrrola.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Para falar de preconceito.

Quebrando mais um vez meu bloqueio em escrever sobre Tv. Volto a usar como centro da reflexão o BBB. Por se tratar de um programa de realidade (dependendo do conceito de realidade de cada um) as emoções por ele geradas são mais reais do que as obras de ficção.
O até então favorito para levar os 1,5 milhões é o lutador Marcelo Dourado. Sua figura é dúbia, de original a preconceituoso ele divide opiniões. A questão trás muitas reflexões dentre estas uma questão interessante de ser pensada: o preconceito.
Dourado é preconceituoso e machista sim. Assim como uma boa parte dos homens do pais. Faz infelizmente parte da cultura. Pessoalmente acredito que a alcunha de homofobico não lhe caiba. O que entendo por homofobia, que é a perseguição e violência física, moral ou psicológica para com homossexuais dentro do contexto do programa não observei. Apesar de alguma parte do apoio que o moço venha recebendo seja de homofobicos, atraídos pela imagem midiática. Não acredito que seja culpa dele ser seguido por idiotas.

Algumas declarações do moço soaram pesadas, como a de que só gays pegam AIDS e ao gritar para que o maquiador e drag queen Dicesar “seje homem”. Preconceito de fato (e um pouco de assassinato do português) e por ignorância nos dois casos. Ignorância essa o centro de qualquer preconceito, dentre eles os nossos.

O alarde causado pelos movimentos de inclusão de minorias, a nível internacional inclusive, para com as declarações do rapaz não foi entendida por uma boa parte das pessoas e consideradas até exageradas. Houve uma certa dose de exagero talves. Mas deve-se compreender. Em anos de segregação e humilhação, qualquer frase, qualquer comentário que reflita preconceito por menor que seja pesa. Qualquer atitude preconceituosa, para alguns comum, trás consigo tudo que estes tiveram que ouvir ou sentir desde que perceberam-se diferentes de uma maioria dominante. Trás consigo o peso das mortes de amigos e conhecidos, humilhações, expulsões de casa, agressões físicas e morais que principalmente os mais antigos presenciaram. Trás o peso de todo um grupo que teve que remar contra a maré revolta durante anos e anos para que hoje pudéssemos estar (quase) livremente discutindo sobre sexualidade. E isso é por si só muita coisa. É entendível que não se tolere mais nada que já se esteja, no popular, de saco cheio.

Esse não é um texto a favor deste ou qualquer participante do BBB, até porque não torço nem de longe para Marcelo Dourado. Meu problema com ele é utópicamente “pessoal”. Não agüentaria durante muito tempo alguém com o dedo em riste me dizendo qualquer “verdadinha” com pompa de quem sabe. Acho um saco. Mas não tem nada a ver com preconceito. Ou talves tenha: O meu para com pessoas cheias de verdade. Detesto.

Dentro de um espaço de 50 anos, por exemplo, muita coisa de fato mudou em relação aos preconceitos para com a vivencia da sexualidade. Porém muita outras coisas (muitas mesmo) precisam caminhar para que exista uma convivência saudável entre as diferenças universais, diferenças que graças a Deus sempre irão existir. E que são, de grupos e mais ainda diferenças subjetivas e pessoais.

As pessoas que lutam pelos direitos (de ser) humanos como um todo, fica uma humilde sugestão. Não gastem a energia em causas tão pequeninas como um programa de tv. Torçam saudavelmente e utilizem-se do entretenimento que é a função principal do programa. É muito valido utilizar a discussão que o assunto trás para levar mais informação aos populares, já que sabemos que o alimento do preconceito é principalmente a ignorância. O combate angustiado só trás coisas ruins aos que assim o fazem. E o preconceito é combatido no dia a dia, devagar e sempre. AS grandes revoluções Trazem as questões, mas é no pouco a pouco que as coisas realmente acontecem.

Por fim a passos lentos se caminha para que um dia, coloridos, dourados, prateados ou preto e branco consigamos enxergar que somos todos iguais exatamente por nossas diferenças.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ensaio sobre a Expressão sexual

Alfredy Kinsey, é considerado pai da sexologia. E seus estudos até hoje servem como base para pesquisas na área. No mais importante deles publicado em 1973, Kinsey lançou uma luz sobre como é grande a possibilidade da expressão sexual humana. Com este estudo inclusive conseguiu tirar (ainda que com a resistência dos setores conservadores da época) a homossexualidade da lista de doenças da OMS.Além disso listou em 8 os possíveis comportamentos sexuais humanos, fixando-os em:

· heterossexual exclusivo;
· heterossexual ocasionalmente homossexual;
· heterossexual mais do que ocasionalmente homossexual;
· igualmente heterossexual e homossexual, também chamado de bissexual;
· homossexual mais do que ocasionalmente heterossexual;
· homossexual ocasionalmente heterossexual;
· homossexual exclusivo;
· indiferente sexualmente.

O estudo de Kinsey sofreu muitas críticas pela forma em que foi conduzido e hoje é considerado defasado por alguns profissionais. No contexto em que encontrava-se a sexualidade, retirá-la da dualidade Céu(heterossexual) / Inferno (Homossexual) Para possíveis 8 formas de expressão, foi de extrema importância para expandir a visão que reinava nas mentes da época.

Hoje dentro da minha visão que pouco tem de cientifica e muito de humana, não agrega-se valor nomeando ou catalogando o comportamento humano, principalmente o sexual. Deveríamos sim considera-lo como mais uma forma de expressão (como já são entendidos a fala, a arte, os movimentos corporais, os sonhos)

A questão começa na normose social de entender a sexualidade como pré existente ao homem. Como se antes do humano se constituir humano a sexualidade já existisse e ele tivesse que se enquadrar no pré estabelecido. O que Racionalmente não é viável, já que a sexualidade humana vem sendo construída desde que o homem se constituiu consciente e é exatamente esta construção que se expressa de forma singular em cada um de nós.

Não pretendo aqui dizer é equivocado criar-se grupos de identificação entre semelhantes. O que não se pode é regrar a sexualidade como se houvesse uma barreira entre as pessoas que as dividissem. Segregação. Até porque dentro desses grupos de se nos aprofundarmos na forma em que expressa-se a sexualidade de cada individuo teremos de criar cada vez mais subgrupos (Vide a Sigla GLS, que cada dia adquire mais uma letra, cada dia exibe mais a diversidade) Até chegarmos únicamente a expressão sexual mais profunda e subjetiva de cada um.

Ainda que usando as 8 classificações de Kinsey existirão outras 1.000 possíveis. Ou como chamaremos a menina hetero que gosta só de beijar meninas, o homem que gosta do coito com homens e relacionamentos afetivos com mulheres, do menino que só gosta de beijar e não sente prazer no coito, da mulher que gosta de travestis, dos casais que sente orgasmos pintando quadros, das mulheres que viraram homens, se casaram e uma delas está grávida(grávido?), dos Serginhos de Reality shows que dão encima de ex namoradas de evangélicos, a minha amiga que tem uma constelação de vibradores. Além disso tudo, onde estaria enquadrado você e toda sua liberdade de expressar-se como bem entender?

Por fim, isso me rememora o grito de “liberdade de expressão” entoado pelos jovens estudantes na época do golpe militar no Brasil. Sorte nossa que a ditadura de hoje não é tão violenta a nível físico e que a luta por liberdade de expressão (neste caso a sexual) deve partir de nós mesmos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Vamos dar uma espiadinha?

Relutei um pouco para escrever um texto sobre Big Brother Brasil. Achei invasivo e desnecessário usar este espaço para falar de um programa de tv. Ignorância minha . A cada momento passado percebi a capacidade que esse programa tem de mexer com as emoções do público, inclusive as minhas.

A cada dia que passou a minha visão foi se distanciando do grande publico, o que não é novidade. Foram formando-se vilões, heróis, personagens secundários, figurantes de uma forma bem diferente das quais eu enxergava. Os meus favoritos foram saindo e os que menos me agradam foram ficando, nada que me surpreenda. A minha surpresa foi a tamanha emoção gerada nesta edição. Talvez pela forma como foi construído, como foram estabelecidos os papeis. Qualidades interessantes foram afogadas, pequenas coisas foram supervaloradas, falsos moralismos e julgamentos duvidosos foram empregados, estranhos favoritos surgiram e vilões não muito convencionais também.

A figura do vilão neste momento está sobre o menino mais pueril que já vi em todas as edições do programa. Sim ele é chato as vezes, mas que mal há nisso. A quantidade de pessoas as quais ouvi dizendo odiar o tal participante é enorme. Quanta emoção dirigida a um programa de entretenimento. Quantas coisas boas deste e dos outros participantes poderiam ser vistas e não são. Talvez comportamento que agente tenha normalmente e isso é muito perigoso.

Já o herói até o momento está na figura de alguém que não corresponde a minha imagem de herói, mas passa um pouco distante de um grande vilão.

Para Carl Jung, grande psiquiatra e pensador suíço, o que nós incomoda no outro tem grandes chances de ser o conteúdo não aceito em nós, logo uma sociedade que odeia uma possível imaturidade de um participante seria uma sociedade emocionalmente imatura? A mim não restam dúvidas da resposta.


Por fim cabe uma reflexão. Onde está o nosso herói e a nossa imaturidade? Onde está nossa coragem, nossa inteligência, nossa beleza, nosso colorido ou nossa aparente força Dourada. Onde está nossa verdadeira vocação para com a diversidade tanto nossa quanto a dos outros? Se agente não sabe, está na hora de procurar. Antes que ultrapasse a barreira do monitor.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Novamente no onibus

Algumas pessoas e eu vestidas com roupas comuns. O ônibus em que estávamos passava por um local onde circulavam outras com roupas exoticamente coloridas. Talvez palhaços e drag queens. Esperei por uma retaliação dos passageiros para com o grupo diferente. Ao invés de ofensas e xingamentos, êxtase e aplausos. Fiquei tão assustado com o comportamento daquela gente que sabia respeitar as diferenças. Acordei logo após. Era um sonho.

Na semana do natal fui comprar algumas coisas. Tomei um ônibus. Tinham algumas pessoas diferentes. Ao descerem foram xingados e ameaçados. Como eu relatei no texto “Dá vontade de enfiar a porrada”. Desci do ônibus irritado.

Carnaval, Eu e minhas amigas fomos para o centro da cidade, ao voltarmos tomamos um ônibus. Dentro haviam algumas pessoas que também voltavam do carnaval. Um casal e um menino, aparentemente gay, estavam tocando alguns instrumentos. O Casal desceu e um rapaz mal encarado foi até o menino que ficara, falou algumas coisas em voz baixa. Perguntou “ O que você é? repete o que você é?” depois de um bate boca começou a deferir socos no menino por um motivo que desconheço mas aparentemente ligado a sexualidade do rapaz.

Eu, um ônibus em movimento e a mesma situação. Obviamente a realidade é bem mais dura do que o sonho. Na realidade sente-se vontade de enfiar a porrada e dar um tiro de 12 e o pior, enfia-se a porrada de verdade. Mata-se de verdade. Odeia-se a diferença de verdade.

No último episódio minha reação foi de pânico e de aminesia temporária. Como se por alguns instantes minha alma se ausentasse da situação, já que eu não poderia me ausentar por completo. Quando relatado os fatos a maioria das pessoas me disseram que é assim mesmo a vida e que eu deveria me acostumar. Não. Eu não me acostumo. Não vou cair na normose de achar que intolerância e violência devem ser vistas como algo que fazem parte da minha vida. Na minha normalidade eu não aceito isso.

O que será que a vida quer me dizer com situações tão parecidas? Um ônibus em movimento. Pessoas diferentes. Intolerância. E eu, passivamente inconformado e surpreso, esperando que isso um dia mude.

O que a vida aguarda de mim eu não sei. Só sei que enquanto quem tem consciência continuar passivo. A situação tende a caminhar ao contrario do relato do meu sonho. Aguardo ansiosamente qual será o destino do meu próximo ônibus.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A peça que não cabe no quebra cabeças

A peça não cabe em lugar nenhum. O quebra cabeças continua lá incompleto e ela não se encaixa. Parece fazer parte de um outro quadro. Estar com ela nas mãos trás angustia e ao mesmo tempo obriga o jogador a refletir, a mudar sua visão do quadro. Ela fundamentalmente não cabe no jogo porém imagine um jogo de baralho sem seu curinga.

Qual angustiante seria se alma a peça tivesse. A angustia de ser uma peça de um outro jogo e estar sendo forçada a se encaixar no atual. Seriam dois angustiados, quem força o encaixe e a peça a ser encaixada.

Eu sou animado(almado), quem tenta me forçar a ser parte desse quebra cabeças falho é animado e o que se consegue é toda sorte de alguns sentimentos de incômodo. Acredito que muito mais para quem tenta encaixar do que para a peça. A peça sabe que não faz parte desse jogo. Quem força também sabe, mas prefere não continuar inutilmente tentando.

Nunca cheguei muito perto da normalidade. Nunca fui dado a tribos, nomenclaturas, rótulos, grupos, . Nunca aceitei hierarquia, coisas sem questionar, intolerancia e falta de respeito. Não fui um adolescente rebelde, até porque isso me tornaria um adolescente normal. Enquanto os meninos da minha idade bebiam e apostavam quem pegava mais nas matinês mais bombadas do Rio, eu procurava informações sobre como poderia viver minha vida no monastério. Sim eu desejava ser monge. Nunca busquei ser diferente, sempre fui diferente por assim ser. As minhas idéias nunca couberam, sempre transcendia tudo aqui que se estabelecia como verdade. Sempre me senti “em outro planeta”. Sempre fui estranho.

Eu e uma boa parte das pessoas, dentre estes alguns amigos meus, sabemos que somos carta fora do baralho, peça do quebra cabeças errado, Idéia inconsistente. A impressão que eu tenho é que somos parte de um jogo que ainda está por se formar. Não cabemos na situação atual, nas falas atuais, nas diretrizes atuais. Ninguém cabe nelas, as pessoas se fizeram peça do jogo. Está na hora de deixar de ser moldado e começar a moldar. Cada peça pode ser um jogo com as a suas próprias regras. Eis um novo jogo, que está prestes a começar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mais um homem grávido, vai dar a luz nos EUA.

“Um homem grávido denovo” disse minha amiga atônita. Entrei no sitio de noticias para verificar a história. Versava basicamente sobre um homem transexual que era casado com um outro homem transexual e ficou grávido por inseminação artificial. Quer dizer eram “mulheres” que se tornaram “homens” e um deles (ou uma delas) engravidou de um outro homem. Entendeu? Sim, é realmente complicado. E as questões que aparecem são maiores que as certezas.

Pode parecer sarcasmo mas acho magníficas essas situações atípicas, por mostrarem que qualquer uma regra que agente possa criar passa a não ter validade quando falamos de comportamento humano.

Quando falamos de relações humanas e relacionamentos, falamos do improvável, do subjetivo do que só pode ser entendido a partir daquele que vive, nunca a partir dos meus próprios valores, que confesso ficam confusos com esse tipo de informação. Pergunto-me: Seriam um casal de lésbicas? Um casal Gay? Um casal Transsexual? E que diferença isso faz para mim e mais que diferença isso faz para eles.

Só me resta desejar boa sorte ao rebento e ficar digerindo minha dúvida, se parabenizo os pais as mães ou se haveria alguma outra nomeclatura.



Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/posts/2010/01/26/mais-um-homem-vai-dar-luz-nos-estados-unidos-260746.asp

sábado, 23 de janeiro de 2010

Nascer, viver e morrer

O homem nasce, cresce reproduz e morre. Eis uma das maiores mentiras ensinadas para as nossas crianças na escola.

Parece que fazemos parte de um sistema linear onde tudo está previsto e tem que acontecer dentro de regras estabelecidas anteriormente. Como se de alguma forma a vida fosse cartesiana, o que há tempos já sabemos tratar-se de uma inverdade.

Agente nasce se não formos abortados, crescemos se não morremos vitimas dos males do mundo, nos reproduzimos se quisermos constituir uma família ou se quero que meu namorado nunca me abandone e morremos sabe se lá por qual motivo. E nesse meio tempo agente ri, chora, assiste big brother, ama, se casa, se separa, faz sexo compra roupa que nunca vai usar. E vamos vivendo como se de alguma forma estivéssemos no caminho para chegar a algum lugar. Mas aonde? O que ganharam os que cresceram, estudaram, casaram montaram sua família, fizeram macarronada domingo para o almoço? Ganharam felicidade se era isso que eles gostariam para sua vida ou uma vida bem chata caso fizeram isso para alimentar um desejo que não era o deles.

O bom de perceber tudo isso é que descobrimos que a chave do viver está exatamente na não linearidade dos fatos, na não existência de coisas concretas e que as regras somos nós mesmos quem fazemos .Querendo ou não somos os responsáveis pelas nossas escolhas. Encerro com uma frase de Sartre: “Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão” E não sabemos mesmo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dá vontade e enfiar a porrada.

Demorei um tempo para voltar a escrever aqui. O fato aqui descrito aconteceu na semana do natal. tomei um ônibus com mais um tanto de pessoas que esperavam junto comigo no ponto, voltando do shopping depois de compras atrasadas de natal, dentre estes tantos subiu um grupo de 3 ou quatro meninos entre 15 e 19 anos. Eram Gays, e falavam em alto e bom som algumas coisas que tinham acontecido com eles durante a semana, assim como faziam quase todos os outros passageiros que ali estavam. Obviamente o grupo chamou mais atenção que os demais e talvez fosse isso que eles quisessem mesmo, até ainenhum problema.

Em um ponto próximo a minha casa eles desceram e um grupo de homens mais velhos que no fundo estavam até então calados, começaram a falar em tom mais alto que os meninos. Primeiro ouvi a frase titulo deste texto “ Dá vontade de enfiar a porrada”, olhei para trás querendo saber em quem iriam bater no ônibus e me preparando para me jogar pela janela em caso de perigo, outro continuou “ Moleque novinho cheio de viadagem”, o mesmo da porrada concluiu “Se é meu filho eu mato, imagina criar um filho para ficar andando cheio de viadagem. Se fosse meu filho daria um tiro de '12' no meio da testa”. Obvio, fiquei estarrecido com as declarações e logo depois tive que descer. Ao andar no curto caminho para minha casa fiquei pensando. Porque “ Dá vontade de enfiar a porrada” em tudo que é diferente do que agente pensa? Muitas vezes essa é a mesma pessoa que luta contra a violência policial na comunidade onde mora, na violência urbana, na violência contra o seu filho e não se dá conta que a violência começa como pensamento para que só depois venha a ser uma ação.

Não tenho pensamentos de mudar o mundo. Mas não existe nada mais importante que a reflexão. Até quando vamos transformar o semelhante em vitimas da nossa própria violência? Até quando Pais como esse senhor vão se achar no direito de matar o diferente ainda que esse seja seu filho? Quando iremos a prender a canalizar essa mesma energia de indignação para questões que realmente são de indignar?

Obvio que existem muitas coisas envolvidas e não daria nem seria interessante de abordar nesse texto. O que fica é a reflexão. Toda vez que pensarmos em violência, que reservemos um pouco desse tempo para refletirmos sobre o nosso próprio desejo de violência porque tem muito ódio fantasiado de bom ato. E pensarmos muito bem sobre que tipo de sociedade agente deseja toda vez que acreditarmos que “enfiando a porrada” vamos resolver alguma questão.