segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Coisas (de pessoas) Velhas

Gente idosa tem mania de guardar coisas em um comodo dizendo que um dia podem precisar, criando um lugar cheio de quinquilharias e obstruindo um espaço que poderia ser melhor aproveitado com coisas novas. Arrisco-me a dizer que reproduzem o que aprendemos na vida. Guardar o maior número de idéias possíveis, ainda que nunca precisemos delas, ainda que essas idéias sejam disfuncionais.

No longo caminho da minha casa até a praia, conversava com um amigo estudante de pedagogia sobre aprendizagem, educação e todas essas coisas que permeiam o papo entre estudantes de humanas. Lá pelas tantas quando falávamos da importância de aprender a viver me veio como insight a seguinte idéia: “Para viver nem sempre é preciso aprender, por vezes precisamos desaprender”

Já repararam a quantidade de coisas que carregamos sem saber o porque? A quantidade de valores morais, de certezas, de pré julgamentos que fazem nossa vida se tornar mais pesada e desprazerosa. Por mais que agente saiba disso é difícil se desfazer de algumas coisas que fizeram parte em algum momento da nossa história, tanto objetos físicos, quanto idéias.

Quando crianças os nossos valores, são os valores da nossa família, além dos valores culturais e do meio. Quando adolescemos deveríamos revisitar esses valores e ficar somente com os que nos serão necessários a partir daquele momento, para que continuemos vivendo.E sempre que tivermos oportunidade revisitarmos esse “quartinho” a fim de não permitirmos o acumulo de tranqueiras. Mas não é isso que acontece. Parece que quanto mias agente vive, mais agente vai ficando pesado, e mais idéias desnecessárias vamos agregando aos nossos valores.

Por isso é importante repensar nosos valores todos sempre, julgando menos e refletindo mais. A não ser que pareça ser confortável para você ter “espírito de velho”.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Só chorar

Covardia é o que fazem com o choro durante a nossa vida. Quando nascemos é a única coisa que agente sabe fazer. E quanto mais velho agente vai ficando mais errado é. Até chegar a um ponto onde já não conseguimos mais. Parece que ele fica entalado na garganta e é mais fácil morrer de infarto a chorar.

Dia desses uma amiga , sem nenhum motivo aparente, desabou em lagrimas. Todos que estavam próximos pediram para que eu fosse “acudi-la” e ver o porque de tanto choro. Me neguei de ínicio porque não vejo no choro algo ruim, porém a pressão das pessoas a minha volta que me condenavam de amigo desalmado me fez ir ao encontro dela. Chegando lá constatei o que eu já sabia desde o ínicio. Ela continuara e pouco importava a minha presença. Ela só queria chorar. Outras pessoas chegaram e disseram “Pare de chorar, você é tão bonita...” Entre outros blá blá blá. Eu como não me importo com o fim do choro de nignuem dei as costas e voltei ao meu lugar de origem. Mania chata de querer parar o choro alheio a todo custo.

Tudo que agente expressa é válido. Somos humanos, e é tão somente isso que somos. Humanidade esta cheia de possibilidades de expressão e tolir alguma delas é idiotice.

Não estou aqui fazendo apologia a tristeza e nem devemos chorar todo tempo, assim como nada deve ser feito o tempo todo. Mas chorar é tão expressão humana quanto sorrir.
Por isso da próxima vez que mandarem você parar de chorar, faça como minha amiga. Ignore e prossiga. Só você sabe a hora do fim.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Entre eu e os meus espiritos

Em questão de religião sou filho da típica família brasileira. Pede-se ajuda a todo mundo quando a coisa aperta e depois não sabe se agradece, a Buda, Maomé, ou a Geová. Por isso já tive contato com muitas religiões, Cristãs, espíritas e espiritualistas.

Nunca fui dado a macumba. Sempre tive maior respeito a todas as formas de expressão religiosa e inclusive já visitei terreiros de mesa branca, azul, vermelha, multicoloridas mas nunca fui muito familiarizado com o espiritualismo afro brasileiro. Porém acho que esse tipo de coisa é genética, pelo menos para mim, que mesmo não sendo médium tenho sempre uma entidade desconhecida querendo usar do corpo.

Não sei se o mesmo acontece com vocês. Sempre me vejo as voltas com pensamentos e sensações que não são bem as que eu gostaria de ter. Desejos estranhos que não condizem com o que eu realmente penso naquela situação. As vezes tenho vontade de beber e de fumar, de esbofetear alguém que me irrita, de fazer sexo sem parar com toda sorte de gente, de imaginar como seriam pessoas sem o menor atrativo sexual nuas, de comprar um pacote de jujubas coloridas e comer sozinho, de parar tudo e ir morar na beira do mar, de me integrar a natureza, de desejar o mal a todos, de desejar o bem a todos, de trocar de carreira.

Identifico em cada desejo louco, dentre os deuses e deusas das muitas religiões, dentre estas o espiritualismo africano. Os Eres, Exus, caboclos, orixás e santos, sempre apresentam algumas dessas particularidades, que se presentificam nessas situações. Esses espíritos obicessores parecem querer tomar meu corpo e realizar o desejo que não é meu. Ou será que sou quem realmente desejo e não aceito?

Na verdade acredito que cada um de nós é templo de toda sorte de espíritos. Sejam eles maus, bons, perversos, homens, mulheres, crianças, santos, pagãos. A questão é que somos nós os pais de santo do nosso terreiro e cada espírito deve se manifestar na hora que for mais conveniente para nós. Por isso recomendo muita cautela para escolher as nossas facetas “espirituais”.

Eis então algo de bom de ser brasileiro. Pela nossa pluralidade cultural, temos um maior numero de santos para se fazer manifestar quando nos for conveniente. Inclusive o espírito da ironia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um salve para a hipocrisia

Hipocrisia. É a palavra que define a demissão noticiada esta semana.Com o Título “Professora da Bahia é demitida após vídeo sensual cair na web, diz advogado”,
a nota fala sobre uma mulher que após ter um vídeo seu dançando postado na internet, foi convidada a sair da escola em que lecionava, porque os pais dos alunos sentiram-se constrangidos com as imagens.
Noticias como essas já não são novidade e não me causam espanto. Por duas vezes já comentei publicamente sobre questões parecidas. Uma delas no caso do Jogador Elano que pedia desculpas por praticas sexuais e no caso e um outro professor, que foi demitido por escrever poemas e contos eróticos . O que me causa espanto e me causará enquanto eu ler e ouvir noticias como essas é a hipocrisia em casos que de alguma forma envolvam sexo. Qual a dificuldade de entender que a sexualidade faz parte do humano? E que este será professor, padeiro, prostituta, freira ou qualquer outra profissão e a sexualidade fará parte dele. É inadmissível que as pessoas continuem a ser marginalizadas por expressar publicamente e em local adequado qualquer comportamento sexual.

O advento das maquinas, celulares, chaveiros, canetas, cortadores de unha que filmam, fotografam e fazem o diabo tornou-se o inferno astral do nosso século. Não tem um lugar que você vá que não tenha alguém com um bendito de um aparelho pronto para retirar um pedaço da sua privacidade. Esse não é o problema real. Que filmem e fotografem tudo. A questão está em saber que alguém possui sexualidade e envolvidos de um puritanismo hipócrita marginalizar o mesmo, como se nenhum dos que marginalizam possuíssem seus desejos e fantasias sexuais. Como se ser humano fosse errado. Tenho duvidas quanto a procedência dos filhos de quem se choca com a sexualidade alheia. Se os pais escandalizam-se com sexo, como conceberam então essas crianças? Ou será que o problema não está no sexo e sim em saberem que você também tem sexualidade.

Não estou para Pedro de Lara, logo não pretendo entrar numa de julgar se a dança que a professora fez é bonita ou vulgar. E se foi vulgar? As pessoas tem direito de serem vulgares onde isto lhes é permitido.
Por fim fica a indagação: Até quando o comportamento sexual das pessoas será parâmetro para imprimirmos julgamentos? Espero eu o dia em que o humano poderá ser somente humano e não serei obrigado a ler desculpas de jogadores de futebol, princesas, apresentadoras de TV, professoras, meretrizes, gogoboys por terem comportado-se como tal.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sobre o que é problema meu

Venho percebendo como é difícil separar o que demanda de nós e o que demanda do outro. Talvez porque vivemos esse tipo de relação na infância com os adultos fazendo o que esperavam de nós para termos nossos desejos satisfeitos.

É complicado sairmos da visão infantil para uma visão mais individualizada, conseguindo compreender o que é nosso . Quantas vezes nos pegamos indo a um evento ao qual não queríamos ir, passando por situações que não gostaríamos de passar só para não frustrar o outro?

A Idéia megalomaníaca de que temos poder sobre os anseios do outro faz com que entremos numa paranóia de ter que fazer tudo para agradar o mundo para tê-lo a nosso favor.

Existem coisas que o outro exige de nós ainda que não expresse em palavras. A questão não está em percebemos o desejo do outro, é quando nos apropriamos desse desejo e passamos angustiantemente a querer suprir o que o outro deseja e que por questões obvias nunca vamos conseguir.

Não falo aqui de cortesia, que é algo louvável. Dar a sua contribuição para deixar o outro feliz é importantíssimo . Mas de fazer-se responsável por nutrir a vida de outras pessoas que não você de sentido é um tremendo desperdício de energia. E isso ocorre muitas vezes não por escolha nossa. Colocam você no meio de uma situação, como se você tivesse a obrigação de dar uma resposta para aquilo quando muita das vezes aquilo compete a ele mesmo.

Por fim, preocupe-se com a sua vida, nunca deixando de estar disposto a auxiliar o outro quando esse precisar, mas que as questões dele continuem sendo dele, e as suas continuem sendo suas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ele está no meio de nós

Tive contato com algumas religiões. Umas por experiência direta, outras por leituras e conversas com meus amigos. Este tema sempre me agradou. Porém durante um bom tempo afastei-me porque algo no ambiente religioso me causava agonia. As músicas já não me agradavam, ir ao templo era cansativo, além de que a convivência com certas pessoas, ritos e algumas coisas que eram ditas era-me quase insuportável. Preferi entrar então em um estado de “latência religiosa.”

Atraído pelo título comecei a ler “Psicologia e Religião” de C G Jung. Não conseguia parar um só instante. Jung fala com clareza sobre a religião de forma empírica, sem fanatismo ou estar ligado a qualquer religião. É apenas um cientista estudando o fenômeno das religiões. A Leitura deste livro me acendeu a dúvida, o que considero fundamental para que possamos voltar ao nosso estado religioso. O estado religioso ao qual me refiro é o estado da dúvida e da ausência. Este não esta envolvido com qualquer religião e nem mesmo ao teismo ou o ateísmo. É apenas o estado humano de voltar-se para sí e verificar seus anseios e duvidas e não necessariamente respondê-las mas aprender a conviver com elas.

Após o termino da leitura percebi uma mudança de visão. Não é preciso estar envolvido em religião para que eu possa manter-me no estado reflexivo e pensante, sem o peso do racionalismo. É impossível ser humano e querer viver dentro de um racionalismo cartesiano. As coisas não são matematicamente explicáveis e nem precisam ser. É essa leveza do estado religioso que falta ao mundo.

A busca por respostas para tudo acaba nos tornando ansiosos, violentos e tendo que dar resposta ao universo e aos outros não nos permitindo sermos apenas humanos e viventes. Algumas pessoas podem ver-me ateu outras um teista ou espiritualista, ou até um confuso. A Única coisa que sei é que tratando-se de divindade cada um tem a(s) sua(s) e a(s) cultua da forma que bem entender. Engana-se quem crê que precisa-se ser teista para tal. A divindade está dentro de nós. A potência de criação assim como o poder de transformação é humano e nele está presentificado nossa parte divina. Se não exteriorizamos em um ser ou seres metafísicos, exteriorizamos em objetos, pessoas, e crenças.

Por fim, ainda que a religião seja visto por alguns como criação humana. Questiono-me : O que no mundo não é criação humana? As coisas e pessoas estão no mundo mas só passam a existir a partir da significação humana. Ou seja se Deus, religião ou qualquer outra coisa são criações humanas de forma alguma elas não existem. Enquanto o homem existir as outras coisas sempre existirão. Deus, não precisa existir, “ele está no meio de nós”.

sábado, 1 de agosto de 2009

Mães, meteorologia, e intuição

A mãe diz: Vai chover meu filho, leve guarda chuva. Você não leva e chove. Deveria ter escutado minha mãe, pensa você.

Quem nunca passou por uma situação como esta?

Não sei se existe uma explicação cientifica para isso. Mas além da nossa mãe externa temos uma mãe interna. Uma voz que sopra ao nosso ouvido coisas que agente não quer ouvir e que no fim das contas era verdade. Isso Parece muito claro quando falamos de relacionamentos.

Parece que ficamos surdos e não queremos ouvir nossa intuição quando ela nos diz que “isso não vai dar certo”. Obvio, porque o que agente quer é que de certo. Queremos que as coisas funcionem da forma como desejamos e com isso temos dois trabalhos: O de não ouvir e o de quebrar a cara.

É importante ouvirmos a essa voz inconveniente e chata, que lembra aqueles personagens que sempre tentam guiar o Herói nos filmes infantis e tem como fala principal o incomodo bordão: “depois não diga que eu não avisei”.

Não devemos ser pessimistas. Devemos aprender a nos ouvir para que possamos colocar as situações de uma forma que nos favoreçam. Até que nossa vozinha amiga, nos diga: “ agora a coisa vai”. Nos temos o poder de mudar as situações nas quais nos encontramos, e fazer com que as probabilidades das coisas saírem como planejadas, até que nos sintamos confortáveis para seguirmos em frente, e alcançarmos os nossos objetivos, sejam nos relacionamentos ou em qualquer uma outra área da nossa vida. Em contra partida nossa mãe externa não tem poderes mágicos e não pode alterar a meteorologia a nosso favor. Por isso, se sua mãe recomendar, leve um guarda chuva. O Seguro morreu de velho.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eu não sou a Madonna.

Uma Palco vazio. Uma Explosão. Jogo de sons, luzes e cores. Eis que do teto surge uma mulher envolta em brilho, que antes de tocar o chão é amparada por negros e fortes bailarinos e começa a cantar. É como se todos os presentes naquele mini mundo servissem para adorá-la. Como se tudo que acontecesse ali fosse para chamar atenção para ela. Nada estranho, quando a imagem supra descrita é de mais um show de Madonna. Uma mulher acorda. Ao fundo a musica tema de “Uma Linda mulher”, bailarinos dançam e a suspendem no ar caminhando com ela até o banheiro. Um maquiador e um lindo vestido de paetês a aguarda, Para que ela arraze no seu dia de trabalho. Um homem chega em casa. Explosões de fogos de artifício são ouvidas. Todos de sua residência vem ao seu encontro fazendo uma bela coreografia e lhe entregam um presente. Em coro cantam uma música, enaltecendo como é bom ter um pai como aquele que acabara de chegar. Muito estranho quando a imagem supra descrita não é de um show de Madonna.

Sem fogos, luzes e coreografias. Assim será a vida de quase todos os mortais. No Maximo uma saidinha para uma boate, uma dançadinha no aniversario da prima, mas nada comparado a um mega show, onde todas as atenções são voltadas para o astro. O mundo não é voltado para o nosso umbigo, as coisas não giram ao nosso redor e as luzes não estarão sempre viradas para nossa face. E como é chato sabermos disso.

É importante sabermos que não somos reis de nada que não da nossa própria vida. Não precisamos estar sempre em movimentos coreografados, usando a melhor roupa, vendo os melhores filmes, numa angustiante busca por chamar atenção por algum motivo que nem sabemos qual. Percebo que cada vez mais estamos ficando vazios dos nossos valores e para isso precisamos sempre “Maddonisar”. Em todo lugar o que mais se vê são pessoas com Celulares, I-pods e “não podes” nos ouvidos escutando sua pseudo trilha sonora, trazendo algum som para sua vida que segundo os ditames da sociedade atual anda meio sem brilho já que para viver precisamos causar alvoroço na padaria, fazer um clip de “Who Let the dogs out no pet shop” , entrar triunfalmente ao som de Evanescence no enterro da vizinha, chorar na chuva pelo termino do namoro. Não basta sermos simplesmente humanos, temos que ser “humano stars”.

Um professor legal é o que sobe na mesa e faz performances, um médico legal é aquele que desenvolveu uma técnica nova de atender dançando lambada, um cabeleireiro legal é aquele que não só corta seu cabelo quanto sapateia e imita a Carmem Miranda. Pessoas simples, não cabem na sociedade atual.

Porém tranqüilize-se, existe prazer na simplicidade. Sair de casa, trabalhar, visitar seu amigo, beijar na boca, assistir dvd, contar piadas podem ser coisas prazerosas sem precisar de holofotes e musica de fundo.

Imagine. O Despertador toca ao som de dance music, seus pais levantam fazendo uma linda coreografia. Sua empregada chega, e limpa a casa vestida de Britney Spears e de quebra sua avó resolve entrar no agito e faz as vezes de bailarina, e por fim sua namorada resolve visita-lo de um modo surpreendente, desce pelo teto pendurada em um cabo de aço vestida de mulher gato. Tudo isso as 7:00 da manhã de uma segunda feira. Imaginou? Pois é, agradeça aos céus. Você não é a Madonna.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A vida imita a arte

A Vida imita a arte. A arte imita a vida. Ou será que a vida e a arte não são coisas tão diferentes assim. Comecei a pensar nisso após lembrar-me do primeiro filme que assisti no cinema, Alladin de Walt Disney. Esse filme me acompanhou durante bastante tempo, já que logo depois de assisti-lo no cinema, meu pai comprou o VHS, e eu como toda criança assistia repetidas vezes.

O que me faz pensar sobre o filme hoje, está um pouco distante do entretenimento das imagens dançantes que me faziam ficar parado no ápice dos meus 5 anos. Percebi que as vezes me vejo como cada personagem do filme. Um herói pobre como Aladim, um Gênio, como o Gênio da Lâmpada, um tolo como o Sultão, amalgamo entre o doce e o hostil como Jasmine, um macaco de circo, como Abu, e até um feiticeiro Vilão como Jafar. Causou-me estranheza, quando percebi o quanto é difícil se ver vilão. Ser o Herói, o sábio, o amigo, e até o tolo é confortável. Imaginar-se vilão causa-me um incomodo absurdo.

O vilão é sempre o personagem odiado. Quase sempre um narcisista, que não importa-se com os outros, e deseja tudo que há de melhor para ele. Usa todos os outros personagens, para a satisfação dos seus desejos. Detentor de um grande poder sobre o herói, seja por ser um feiticeiro, ou até mesmo ocupar um cargo social elevado na história.

Confesso. As vezes tenho desejo de vilania. Não ser vilão a ponto de querer o mal do outro. As trapaças e maldades que desejo, são contra a minha porção “herói pobrinho”. Certos dias a vontade que eu tenho é de não me importar com crianças de rua, com cachorros, com a violência urbana, com a crise do senado ou com morte do Michael Jacksson. Tenho desejo de comprar coisas caras, morar em um luxuoso apartamento e ostentar riqueza custe o que custar, além de corresponder a todos os meus desejos, passando por cima dos meus valores morais, éticos e fazendo uso das pessoas para isso. Ser o “herói pobrinho”, as vezes cansa.

Imagine como é complicado para um pacifista, vegetariano, libertário e estudante de psicologia imaginar-se vilão. Sempre que meu vilão vem a tona, e penso em dar atenção aos meus valores construídos me sinto mal. É como se de alguma forma tentasse empurrar o vilão para o lugar mais escondido e sombrio que pudesse. E cada vez que tento sufocar a porção vilão, ela volta mais forte.

Ultimamente tenho aprendido a viver em harmonia com cada um desses personagens. E aprendendo (a passos lentos confesso) a fazer com que esses personagens interajam criando um roteiro ainda que conturbado e um pouco sem sentido. Herói, vilão, O tolo, o palhaço, o gênio, o macaquinho, todos eles fazem parte do filme, e precisam aparecer, e fazem a diferença no roteiro.

Por fim, me recordo de um outro VHS, chamado “O retorno de Jafar”, que é uma continuação do Filme Alladin. Que é quando o feiticeiro Jafar retorna ao filme em forma de gênio, já que no final do primeiro filme, ele é transformado em um gênio da lâmpada, por um pedido feito por ele, induzido pelo herói, na tentativa de trancafiá-lo na lâmpada e colocá-lo o mais longe possível da história. Nas palavras irônicas do próprio gênio, ele teria “Poderes cósmicos e fenomenais, dentro de uma lampadasinha”.
Pois é gênio não esqueça: Basta uma esfregadinha na lâmpada maravilhosa para que o vilão saia. E dessa vez com poderes tão fortes quanto os seus.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quando Deus é amor, os demônios se presentificam

Recebi um e-mail de um colega de faculdade. Não me recordo o que dizia, mas algo me chamou atenção. No corpo do e-mail falava-se que depois de Jesus ter apresentado Deus como amor no novo testamento, o demônio apareceu mais vezes. Achei interessante.

Eu que não sou bobo, resolvi perguntar ao deus da sociedade da informação se ele sabia algo sobre isso. Joguei no google e li muitas coisas, na maioria religiosas, sobre o assunto. Previsões de fim do mundo, convites para participar de cultos e contas bancarias para depósito do dizimo a parte, comecei a pensar em como isso é uma realidade nas nossas vidas. Quando deus é mal, tirano, perverso e vingativo, não precisa-se de demônio, o nosso próprio deus já faz o serviço completo. Mas quando damos voz de ordem ao amor e ele entre os sentimentos passa a ser nosso deus, ferrou. Os demônios ficam em polvorosa, os fantasmas surgem de todos os cantos,escutamos gritos e correntes que se arrastam dentro de nós e a vontade que temos muitas vezes é de chorar. Não tem jeito, a ira traz certezas já o amor dúvida. Se sentimos raiva de alguém, não temos questionamentos. Ele é um idiota, que não me merece e deve queimar no fogo por toda a eternidade. Assunto encerrado. Já quem ama nunca sabe de nada. Será que vai gostar do presente,da roupa, da minha voz, do rosbife da minha mãe, do meu cabelo, do criado mudo que herdei da minha avó? Como devo agir, pensar, caminhar, me vestir, dar comida aos cachorros? Um dilúvio de duvidas inunda nossos pensamentos e ações, e o pior, sem avisar antes para que possamos construir nossa arca e só sair quando a pombinha branca voltar com o ramo de oliveira no bico . O jeito é nadar mesmo.

Mistura-se prazer e desprazer de forma rápida e inesperada, e as vezes a sensação é parecida com aquela que sentimos quando nos perdemos da nossa mãe no meio da multidão no centro da cidade.

Bem, de duas uma. Ou amor não é um bom deus, ou ele é sagaz a ponto de liberar os demônios para que possamos pelejar com eles, como o Arcanjo Miguel e sua legião fizeram na batalha no Céu e expulsa-los de vez do nosso paraíso.

O bom disso tudo é que somos uma democracia, podemos dar o poder de governo ao sentimento que quisermos. E sem tempo determinado para cada um. Quando quem está no comando não nos agrada podemos pedir o impeachment sem precisar pintar a cara. Somos os donos do jogo.

Recomendo apenas cuidado para não permitir a tirania e a ditadura de um sentimento só. Vai que um deles é fidelista.

Quem ama faz.

Quem ama não trai. O único amor verdadeiro é o de mãe. Amor verdadeiro nunca acaba se acabou é porque não era amor.

De médico, louco, e Phd em assuntos sentimentais todo mundo tem um pouco. Ao nosso redor as pessoas têm 1001 certezas sobre o amor, basta alguém estar em duvida que logo resolvem como uma equação matemática os seus problemas.

O namorado da sua amiga está traindo ela com uma loira ridícula. Sua amiga te conta aos prantos essa descoberta, e diz “mas ele disse que me ama”, o diagnostico vem sem pestanejar “não seja boba menina, quem ama não trai”.

Todo mundo sabe tudo sobre o amor. Dos outros. Quando o amor é nosso complica tudo, e de tanto que agente não sabe sobre o amor agente cria certezas só para nos manter mais seguros diante do monstro que não dominamos.

Acho que o erro está exatamente porque queremos do amor o final. Primeiro agente se conhece, depois eu gosto de você, depois construímos confiança, até chegarmos ao amor, e uma vez encontrado estamos na perfeição e gozaremos de uma vida maravilhosa longe de qualquer problema. Um amor quase nirvana, inatingível, um amor topo do everest. Não. O amor de fato não é isso. O amor deve ser inicio. Inicio de qualquer relação, projeto, pensamento. O amor deve ser empregado diante de qualquer situação. Não digo do amor romântico, e sim do amor biológico, o amor necessário para que tudo comece. Deve ser início, é o acolhimento de uma idéia, é sentir-se parte daquilo que se deseja, ele é nosso e ninguém tasca, deve partir da gente e nunca esperar que ele surja como mágica do ¹“mágico mc”. O amor é mágico, mas não é mágica.

Por tanto, amor de mãe, de pai, de filho, de marido traído, de sogra, de professora mal amada ou seja lá de onde vier, não deve ser esperado, deve ser sentido. Amor não é o final, e com amor que se começa.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

[...] E se desculpa por sexo virtual

Ler portais jornalísticos é um hobby. Noticias aleatórias que de tão repetitivas não exigem tanto da minha atenção. Porém uma noticia me fez pensar . O Titulo era “Em alta, Elano revela plano para Copa e se desculpa por sexo virtual”. A nota falava sobre uma entrevista que o jogador Elano concedeu ao sitio Universo on-line, onde fala de sua vida como esportista na Europa e se desculpa por ter feito sexo virtual com uma personagem da internet, que gravava os vídeos e disponibilizava-os .

“Em alta, Elano revela plano para Copa e se desculpa por sexo virtual”, ao ler isto senti um estranhamento. Que ele tem planos para a copa, O.k, não me causa nenhum tipo de sentimento. Na verdade não sei muito bem quem é Elano. Porém a parte “[...]e se desculpa por sexo virtual”, foi a que me causou maior incomodo. Logo me indaguei: Desculpas para quem? Não. Eu não consigo imaginar uma pessoa me parando na rua e falando : “Oi tudo bem? Eu queria muito me desculpar com você porque ontem eu fiz sexo”. Imagine a quantidade de desculpas diárias que seriamos obrigados a ouvir? Imagine então a sua avó pedindo desculpas por isso. Prefiro não fazer parte desse constrangedor dialogo.

Se é certo ou errado essa pessoa divulgar as imagens na rede eu não sei. No mínimo falta de respeito e reflexo do grande “boom” de perca de confiança e invasão de privacidade. O que não pode acontecer é alguém acreditar que precisa pedir desculpas por ter feito sexo ainda que virtual. Se alguém merece desculpas é o próprio atleta que teve uma imagem intima divulgada.

Muitas pessoas poderão dizer “ ele é casado”. Sim e eu com isso? dependendo do acordo entre ele e sua companheira, as desculpas devem ser pedidas a ela, e não a mim como publico. Não me sinto ofendido com as praticas sexuais das pessoas. Sexo é humano, e todos de alguma forma suprirão seus desejos.

Noticias como essa, só me fazem perceber que a sociedade estranha, onde vende-se o corpo, e pede-se desculpas por praticar sexo. Será que porque a exibição involuntária do rapaz foi gratuita, ele sentiu-se no dever de pedir desculpas? (Nunca vi uma capa da playboy pedir desculpas publicas). Até os desejos humanos devem seguir o modelo capitalista e estar vinculado ao dinheiro? Não sei. Me parece que cada vez mais estamos virtualizando e individualizando nossos desejos.

Portanto cuidado com quem você escolhe para dividir seus momentos de intimidade. Enquanto no mundo real temos a AIDS e as DSTs, no virtual temos pessoas prontas para fazer esse tipo de coisas, se não for problema assumir esses risco tudo bem, porém se você achar que depois terá que pedir desculpas pelo erro de ser humano, previna-se.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O que vocês são?

O titulo do texto já deve ter sido ouvido ou proferido por você. A pergunta é disparada como uma flecha. Ao invés da dor que o real objeto causaria, sentimos a angustia de não sabermos a resposta.

Você gosta e esta feliz. Mas quem são vocês? São namorados, amantes, amigos, loucos? Você não sabe responder.

Existem alguns títulos sociais aos quais você pode assumir: namorado, amante, amigo. Ou até os novos: Peguete, peguete fixo ( quase que uma evolução do peguete), relacionamento aberto, ficante. Entre uma serie de outros nomes, títulos e alcunhas que foram inventadas por alguém que não foi você.

E quando o seu relacionamento não cabe em nenhum desses títulos. O que vocês são? Eu responderia que são dois envolvidos na grande angustia de não ser nada que as pessoas entendam, e na grande alegria de não precisar ser nada, além de pessoas que se amam.

Nunca achei legal essa mania de ter que classificar tudo . Como fazer para normatizar sentimentos? Amor + ver duas vezes por semana + Não olhar outras mulheres na rua = Namoro. Ou Beijar de olhos fechados + lembrar dele quando toca aquela música + sentir atração pelo ator da malhação = Peguete fixo. Não. Relacionamentos não são exatos e não se tratam de equações matemáticas. Relacionar-se é somente a mais profunda instancia de ser humano. Até porque o que seriam os humanos sem os outros?

Pegar um relacionamento e tentar enfiar-se nele, parece-me desgastante. Adequar-se a regras, só para poder ter um título para dar ao seu relacionamento, é pura acomodação e falta de criatividade. Relacionamentos são construídos por você e o outro, e não tem como se fugir a esta única regra, ou será que todos os namoros são iguais? Todas as amizades? Todos os casamentos?

Porém quando aquela sua tia chata ver você com aquele seu relacionamento que você não sabe bem ao certo onde encaixá-lo nas escalas e títulos sociais, diga que é seu namorado e se precisar diga depois que não deu certo. Com certeza será muito mais chato explicar pra ela que as relações não precisam ser denominadas.