sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eu não sou a Madonna.

Uma Palco vazio. Uma Explosão. Jogo de sons, luzes e cores. Eis que do teto surge uma mulher envolta em brilho, que antes de tocar o chão é amparada por negros e fortes bailarinos e começa a cantar. É como se todos os presentes naquele mini mundo servissem para adorá-la. Como se tudo que acontecesse ali fosse para chamar atenção para ela. Nada estranho, quando a imagem supra descrita é de mais um show de Madonna. Uma mulher acorda. Ao fundo a musica tema de “Uma Linda mulher”, bailarinos dançam e a suspendem no ar caminhando com ela até o banheiro. Um maquiador e um lindo vestido de paetês a aguarda, Para que ela arraze no seu dia de trabalho. Um homem chega em casa. Explosões de fogos de artifício são ouvidas. Todos de sua residência vem ao seu encontro fazendo uma bela coreografia e lhe entregam um presente. Em coro cantam uma música, enaltecendo como é bom ter um pai como aquele que acabara de chegar. Muito estranho quando a imagem supra descrita não é de um show de Madonna.

Sem fogos, luzes e coreografias. Assim será a vida de quase todos os mortais. No Maximo uma saidinha para uma boate, uma dançadinha no aniversario da prima, mas nada comparado a um mega show, onde todas as atenções são voltadas para o astro. O mundo não é voltado para o nosso umbigo, as coisas não giram ao nosso redor e as luzes não estarão sempre viradas para nossa face. E como é chato sabermos disso.

É importante sabermos que não somos reis de nada que não da nossa própria vida. Não precisamos estar sempre em movimentos coreografados, usando a melhor roupa, vendo os melhores filmes, numa angustiante busca por chamar atenção por algum motivo que nem sabemos qual. Percebo que cada vez mais estamos ficando vazios dos nossos valores e para isso precisamos sempre “Maddonisar”. Em todo lugar o que mais se vê são pessoas com Celulares, I-pods e “não podes” nos ouvidos escutando sua pseudo trilha sonora, trazendo algum som para sua vida que segundo os ditames da sociedade atual anda meio sem brilho já que para viver precisamos causar alvoroço na padaria, fazer um clip de “Who Let the dogs out no pet shop” , entrar triunfalmente ao som de Evanescence no enterro da vizinha, chorar na chuva pelo termino do namoro. Não basta sermos simplesmente humanos, temos que ser “humano stars”.

Um professor legal é o que sobe na mesa e faz performances, um médico legal é aquele que desenvolveu uma técnica nova de atender dançando lambada, um cabeleireiro legal é aquele que não só corta seu cabelo quanto sapateia e imita a Carmem Miranda. Pessoas simples, não cabem na sociedade atual.

Porém tranqüilize-se, existe prazer na simplicidade. Sair de casa, trabalhar, visitar seu amigo, beijar na boca, assistir dvd, contar piadas podem ser coisas prazerosas sem precisar de holofotes e musica de fundo.

Imagine. O Despertador toca ao som de dance music, seus pais levantam fazendo uma linda coreografia. Sua empregada chega, e limpa a casa vestida de Britney Spears e de quebra sua avó resolve entrar no agito e faz as vezes de bailarina, e por fim sua namorada resolve visita-lo de um modo surpreendente, desce pelo teto pendurada em um cabo de aço vestida de mulher gato. Tudo isso as 7:00 da manhã de uma segunda feira. Imaginou? Pois é, agradeça aos céus. Você não é a Madonna.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A vida imita a arte

A Vida imita a arte. A arte imita a vida. Ou será que a vida e a arte não são coisas tão diferentes assim. Comecei a pensar nisso após lembrar-me do primeiro filme que assisti no cinema, Alladin de Walt Disney. Esse filme me acompanhou durante bastante tempo, já que logo depois de assisti-lo no cinema, meu pai comprou o VHS, e eu como toda criança assistia repetidas vezes.

O que me faz pensar sobre o filme hoje, está um pouco distante do entretenimento das imagens dançantes que me faziam ficar parado no ápice dos meus 5 anos. Percebi que as vezes me vejo como cada personagem do filme. Um herói pobre como Aladim, um Gênio, como o Gênio da Lâmpada, um tolo como o Sultão, amalgamo entre o doce e o hostil como Jasmine, um macaco de circo, como Abu, e até um feiticeiro Vilão como Jafar. Causou-me estranheza, quando percebi o quanto é difícil se ver vilão. Ser o Herói, o sábio, o amigo, e até o tolo é confortável. Imaginar-se vilão causa-me um incomodo absurdo.

O vilão é sempre o personagem odiado. Quase sempre um narcisista, que não importa-se com os outros, e deseja tudo que há de melhor para ele. Usa todos os outros personagens, para a satisfação dos seus desejos. Detentor de um grande poder sobre o herói, seja por ser um feiticeiro, ou até mesmo ocupar um cargo social elevado na história.

Confesso. As vezes tenho desejo de vilania. Não ser vilão a ponto de querer o mal do outro. As trapaças e maldades que desejo, são contra a minha porção “herói pobrinho”. Certos dias a vontade que eu tenho é de não me importar com crianças de rua, com cachorros, com a violência urbana, com a crise do senado ou com morte do Michael Jacksson. Tenho desejo de comprar coisas caras, morar em um luxuoso apartamento e ostentar riqueza custe o que custar, além de corresponder a todos os meus desejos, passando por cima dos meus valores morais, éticos e fazendo uso das pessoas para isso. Ser o “herói pobrinho”, as vezes cansa.

Imagine como é complicado para um pacifista, vegetariano, libertário e estudante de psicologia imaginar-se vilão. Sempre que meu vilão vem a tona, e penso em dar atenção aos meus valores construídos me sinto mal. É como se de alguma forma tentasse empurrar o vilão para o lugar mais escondido e sombrio que pudesse. E cada vez que tento sufocar a porção vilão, ela volta mais forte.

Ultimamente tenho aprendido a viver em harmonia com cada um desses personagens. E aprendendo (a passos lentos confesso) a fazer com que esses personagens interajam criando um roteiro ainda que conturbado e um pouco sem sentido. Herói, vilão, O tolo, o palhaço, o gênio, o macaquinho, todos eles fazem parte do filme, e precisam aparecer, e fazem a diferença no roteiro.

Por fim, me recordo de um outro VHS, chamado “O retorno de Jafar”, que é uma continuação do Filme Alladin. Que é quando o feiticeiro Jafar retorna ao filme em forma de gênio, já que no final do primeiro filme, ele é transformado em um gênio da lâmpada, por um pedido feito por ele, induzido pelo herói, na tentativa de trancafiá-lo na lâmpada e colocá-lo o mais longe possível da história. Nas palavras irônicas do próprio gênio, ele teria “Poderes cósmicos e fenomenais, dentro de uma lampadasinha”.
Pois é gênio não esqueça: Basta uma esfregadinha na lâmpada maravilhosa para que o vilão saia. E dessa vez com poderes tão fortes quanto os seus.